À CATANADA
O chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas da Guiné-Bissau, máxima expressão operacional do poder militar local, foi assassinado. Horas depois, o seu adversário político (!) e Presidente da República foi-o também. Na própria casa e à vista da mulher. A golpes de catana e tiros à queima-roupa. Raiava o dia e a cidade fechou-se nos medos dos seus habitantes: nos medos em que ninguém é solidário. De manhã, porém, nada mais aconteceu. As autoridades que restam lamentam, com litúrgica e descoroçoante rapidez, o sucedido e logo anunciam a boa nova: não houve golpe de Estado. Em Portugal, pai conflituoso de pesados ontens que os realismos da vida - CPLP incluída - foram tentativamente reaproximando, responsáveis de todos os partidos proclamaram também, por entre alívios: não houve golpe de Estado. No dia 10, Nino Vieira vai a soterrar, com os adereços do calculismo da sua República. Por isso, ninguém dirá que desce à campa o guerrilheiro que se foi tornando no telúrico e iracundo destruidor das melhores promessas do futuro dos sonhos de Amílcar Cabral. Entre muitos dos seus, como entre nós, leva as saudades com ele. Parece que o que agora importa é que a situação regresse à normalidade, e não repensar a normalidade da situação que regressa. Também ninguém quererá pôr a nu a evidência: se não houve golpe de Estado, não foi por falta de golpe, mas só por falta de Estado. Praticamente desde sempre - um sempre reportado à independência - que a Guiné-Bissau emigrou da lógica e da prática institucionais que nós por cá partilhamos. E este sangrento episódio só confirma que, por lá, o mandato político é uma autorização de desempenho de uma gestão orientada para a satisfação das reivindicações dos militares. Por isso mesmo, o mandato não é o cruzeiro entre dois sufrágios. O mandato tem por limite, entre cada dois sufrágios, a duração da paciência dos militares. O resto é menor. A catana e a pistola suprem a vitalícia gratidão do povo aos que se arrogam méritos antigos de uma libertação que já poucos podem recordar. A fatia dos lucros que as rotas atlânticas da droga deixam nos seus entrepostos é magra, não dá para todos. Custa tudo em soberania, em desenvolvimento, em saúde e em bem- -estar. E só chega para dar condições de felicidade a uns quantos bravos mal fardados se entretanto eles se forem liquidando entre si. in DN
Não houve salvação para 140 baleias encalhadas
Tasmânia. Cientistas desconhecem porque são tantas as que vão ali parar
Outras 48 sobreviveram com a ajuda de um exército de voluntários
Logo que soube haver baleias encalhadas na praia, Jemma Blomhoff, 22 anos, deixou a sua casa com a filha de quatro meses, Jordyn, ao colo e correu para ajudar. "Ouvimos a notícia esta manhã", contou ao jornal australiano, Herald Sun. "Agarramos nuns baldes e saímos a correr. A Jordyn estava de pijama." Na praia da ilha de King, entre o continente australiano e a ilha da Tasmânia, esperava-as um cenário desolador. Quase 200 baleias-piloto e uma dezena de golfinhos gemiam presos no areal, longe do mar que os ali deixara. À sua volta, centenas de pessoas, voluntários e autoridades lado a lado, estavam numa luta contra o relógio para manter os mamíferos vivos até à subida das ondas, a única esperança de salvação. in DN
Avião partiu-se em três mas 126 pessoas escaparam
Amesterdão. Faltavam três quilómetros para a pista de aterragem quando o 'Boeing' das linhas aéreas turcas se despenhou. O aparelho perdera altitude subitamente e partiu-se em três. Antes de morrerem, pilotos terão salvo a vida a 126 pessoas
Só a sorte evitou uma tragédia maior. Em menos de dez segundos, para terror das 136 pessoas a bordo, um avião despenhou-se ontem com violência num descampado em redor do aeroporto de Amesterdão depois de passar a rasar uma auto-estrada e dezenas de habitações. Pelo menos nove pessoas morreram com o impacto. Mas outras 126 saíram com vida do aparelho partido em três. "O avião estava num ângulo de 45 graus, com o nariz levantado e a cauda em baixo", disse à BBC Thomas Fredihoff, um estudante holandês que passava de bicicleta. in DN
OS OITO ÓSCARES DO BAIRRO DA LATA
Cinema. Numa cerimónia revista para ser mais curta e dinâmica, e contrariar a crise, e com Hugh Jackman a apresentar, 'Quem Quer Ser Milionário', do britânico Danny Boyle, foi o (previsível) vencedor da 81.ª edição dos Óscares, com oito prémios em 10 nomeações. E, finalmente, as audiências de TV inverteram a tendência negativa
Era uma vez um filme independente britânico chamado Quem Quer Ser Bilionário?. Realizado na Índia por Danny Boyle, com base num livro de um autor local, o filme era falado em hindu e inglês, ambientado num bairro da lata de Bombaim, interpretado por actores locais de quem ninguém tinha ouvido falar e contava a história de um rapaz da dita favela que chegava à final do concurso Quem Quer Ser Milionário? in DN
A ÚLTIMA COLECÇÃOYVES SAINT LAURENT
Paris - Leilão. Durante quase 50 anos, o estilista francês reuniu uma das mais valiosas colecções de arte. Centenas de peças que deslumbraram o 'pequeno príncipe da alta costura' estão à venda. As 700 peças valem 300 milhões euros. Que podem ter em comum as obras de Picasso, Matisse e Mondrian, um sarcófago egípcio, um buda dourado da dinastia Ming, móveis Art Déco, objectos de estilo barroco e outras centenas de esculturas, pratarias e quadros datados do século I ao século XX? Durante quase 50 anos estas e outras peças de arte cruzaram-se com o percurso do maior criador de moda do século XX, para formar uma das mais impressionantes e invulgares colecções de arte da actualidade. in DN
Imagens da morte valem um milhão
Televisão. Desde que venceu o 'Big Brother' britânico, em 2002, Jade Goody viveu da venda da sua imagem. Agora, com cancro em fase terminal, vendeu os direitos de transmissão da sua morte. Revista 'OK!' comprou exclusivo do casamento. Em Agosto do ano passado, enquanto participava no reality show Big Boss, a versão indiana do Big Brother, Jade Goody foi chamada ao confessionário. Até aqui nada de extraordinário para a vencedora do terceiro Big Brother britânico, em 2002. Mas Jade não estava preparada para a notícia que recebeu: aos 27 anos, tinha-lhe sido diagnosticado cancro do cólo do útero. Seis meses depois, e com poucas semanas de vida, a ex-BB fez acordos com os media no valor de um milhão de euros: vendeu os direitos de transmissão da sua morte à Living TV e as fotografias do seu casamento à revista OK!. Assim que recebeu a notícia, a jovem londrina foi logo submetida a uma cirurgia para retirar o útero. Mas apesar dos tratamentos, na sexta-feira os médicos deram-lhe a notícia fatal: o cancro já se espalhou por todo o corpo restando-lhe poucas semanas de vida. in DN
Ministro japonês pede demissão por ter ido bêbado à reunião do G7
Remodelação. Chefe do Governo escolhe novo responsável para a pasta das Finanças
Neto de poetas substitui Shoichi Nakagawa na pasta das Finanças. "Sinto-me terrivelmente mal por ter provocado tais embaraços ao público japonês e ao Parlamento", afirmou Shoichi Nakagawa, perante uma comissão parlamentar e horas antes de apresentar a sua demissão ao chefe do Governo, Taro Aso. Nakagawa referia-se à conferência de imprensa que deu, no passado sábado, em Roma no final da reunião dos ministros das Finanças e dos responsáveis pelos bancos centrais dos países do G7.
O ministro nipónico surgiu, então, com um aspecto que se assemelhava muito a alguém que estivesse sob o efeito do álcool: o seu rosto apresentava-se congestionado, o olhar estava um tanto ou quanto errático e baço e a voz entaramelada. O homem responsável pelas Finanças da segunda maior economia mundial não só revelou, então, alguma dificuldade em compreender as perguntas que lhe faziam na conferência de imprensa como lhe foi difícil terminar as frases. E, escândalo dos escândalos, chegou mesmo a dormitar. in DN
O assassino deixou o aviso mas não o levaram a sério
Massacre. Um dia depois, a Alemanha perguntava: "Porquê?" A polícia descobriu que o rapaz que entrou a matar na sua antiga escola tinha problemas psiquiátricos, era um fanático por armas de fogo e um viciado em jogos de computador violentos. Um vídeo do seu último minuto corre na Internet
"Merda. Já não posso mais. É sempre o mesmo - todos se riem de mim, ninguém reconhece o meu valor. Tenho aqui uma arma e amanhã de manhã vou ao meu antigo liceu e vou fazer daquilo um inferno. Vais ouvir falar de mim amanhã de manhã. Lembra-te deste nome: Winnenden. Não digas nada à polícia." Tim Kretschmer deixou o aviso, mas não o levaram a sério. Às 90 da manhã de quarta-feira, sete horas depois de ter contado o seu plano macabro a um amigo pela Internet, o rapaz de 17 anos estava à porta do liceu de Albertville, armado e vestido de negro, pronto para cometer o crime que chocou a Alemanha. A sangue-frio, matou nove alunos e três professoras com tiros na testa. Depois saiu e fuzilou outras três pessoas antes de se suicidar durante um tiroteio com a polícia, três horas mais tarde, já a 40 quilómetros de distância da escola. Um vídeo amador com os últimos momentos de Tim Kretschmer foi ontem posto a circular na Internet. in DN
NACIONAL
Angola quer participações cruzadas com Portugal
Visita. No primeiro dia da estada do Presidente angolano a Lisboa, Cavaco Silva não poupou elogios ao seu homólogo e defendeu uma 'parceria estratégica' entre os dois países. Eduardo dos Santos apontou caminhos para o reforço das relações económicas, entre eles as participações cruzadas
Foi apenas com cerca de 15 minutos de atraso que o Presidente da República de Angola, José Eduardo dos Santos, e sua mulher, Ana Paula dos Santos, chegaram ontem ao Mosteiro dos Jerónimos, local onde seriam recebidos por Aníbal e Maria Cavaco Silva e onde iniciariam a visita de Estado de dois dias a Portugal. Mas, ao contrário do que poderia ser esperado, nem ali nem junto ao Palácio de Belém, para onde a comitiva se dirigiu depois, havia grandes grupos de cidadãos naturais de Angola prontos para ver e aplaudir o casal. Talvez porque da sua agenda, o Presidente da República de Angola excluiu o encontro com a comunidade angolana em Portugal. Apesar disto, os representantes das associações de imigrantes angolanos em Portugal esperam que o "estreitar das relações económicas e financeiras" entre os dois países, sobre as quais Eduardo dos Santos e Cavaco Silva falaram ontem em conferência de imprensa em Belém, possa beneficiar cidadãos de Angola na diáspora bem como portugueses. "Quero que se sintam tão bem como se sentem em casa", disse Cavaco Silva, dirigindo-se ao seu homólogo angolano no início da conferência de imprensa, que começou pouco passava da uma da tarde. Ao seu lado, Eduardo Santos agradeceu "a forma calorosa" como o receberam a si e à primeira dama de Angola. in DN
Despedimentos sobem 59% em Janeiro
Trabalho. 14 724 inscrições nos centros de emprego. O número de pessoas que se inscreveram no Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) na sequência de um despedimento unilateral registou um aumento homólogo de 59% em Janeiro. Foram 14 724 casos, o valor mais alto desde, pelo menos, 2003. O agravamento começou a ser flagrante em Setembro, altura em que o número de despedidos superou já as 10 mil pessoas. Nos últimos três meses, com mais de 34 mil casos, estas situações registaram o maior aumento homólogo (58%) desde o início da série. in DN
LOCAL
Marinha Grande. Adolescente de 14 anos teve os polegares amputados
O director do Serviço de Pediatria do Hospital de Santo André fez, ontem, um apelo contundente para que "os ex-militares e todas as pessoas que guardem em suas casa engenhos explosivos, que os entreguem às autoridades". Tudo por causa de mais uma vítima grave, no caso um adolescente de 14 anos que no domingo foi vítima de um rebentamento de uma granada. Júlio Bilhota Xavier fez ontem este apelo acrescentando que "Portugal é um dos países da Europa em que morrem mais crianças vítimas de acidente, para além das que ficam com lesões irreversíveis". Transportado pelos bombeiros da Marinha Grande para a urgência pediátrica, o menor, segundo o boletim clínico divulgado ontem, "sofreu escoriações múltiplas no corpo, e lesões graves em ambas as mãos, que resultaram na amputação de alguns dedos". Ficou sem os dois polegares. in DN
DESPORTO
Itália do futebol vira-se contra José Mourinho
Caso. Provocações do treinador português aos mais directos rivais - AC Milan, Juventus e Roma - e as suas críticas não caíram bem ao mundo do futebol transalpino. A federação daquele país decide hoje se vai ou não castigar Il Speciale. Lippi, ao DN, elogia técnico mas pede serenidade. Foram duras, bastante duras mesmo, diga-se, as críticas a que José Mourinho, treinador do Inter de Milão, foi ontem sujeito depois das suas declarações na véspera, em que arrasou os três principais adversários, AC Milan, Juventus e Roma, falando em "prostituição intelectual". E hoje ficará a saber se essas suas afirmações vão ser punidas pela federação italiana, estando, assim, em risco de ser impedido de dirigir os seus jogadores desde o banco dos suplentes durante algum tempo. in DN
"Não fomos dignos da história do Sporting"
Liga dos Campeões. A pior derrota de sempre em competições europeias abre feridas no Sporting. Paulo Bento lamenta equipa sem capacidade e Miguel Ribeiro Telles fala em assumir responsabilidades. Hoje será um dia 'quente' em Alvalade
Humilhados por 7-1 (12-1 no total) em Munique. É a maior derrota de sempre sofrida pelo Sporting nas competições europeias. Os números envergonham os jogadores, assumiram Moutinho e Derlei, e nem o resultado de Alvalade (5-0) desculpa a inércia leonina no jogo de ontem. "Não serve de grande consolação aos adeptos, mas resta pedir desculpa. Não mereciam o que se passou, não fomos dignos da história do Sporting", reagiu o vice-presidente Miguel Ribeiro Telles, dando a cara no final do jogo e dizendo ainda que "não foram pedidas explicações" a Paulo Bento ou aos jogadores: "Não estamos aqui para pedir explicações, mas para assumir as nossas responsabilidades." Para Paulo Bento "o resultado explica-se pela forma como entrámos no jogo, cometendo demasiados erros, demasiado receosos e sem conseguir tirar o jogo da 1.ª mão da cabeça". Foi um " pesadelo" que "mancha" a boa campanha na prova. "É certo que não éramos favoritos, mas revelamos incapacidade para esta fase da prova", reconheceu o técnico, esclarecendo que Miguel Veloso jogou a titular por opção técnica e foi substituido pela mesma razão. in DN
ECONOMIA
CGD e Sonangol criam banco comum
Parceria luso-angolana. No âmbito da visita oficial de José Eduardo dos Santos a Portugal, os dois países vão intensificar as relações financeiras, criando um banco luso-angolano. Os accionistas avançam com um capital de 800 milhões de euros. Capital detido a 50% por cada um dos accionistas. A Sonangol e a Caixa Geral de Depósitos (CGD) vão criar em conjunto um banco luso-angolano. Com base nesta parceria, as duas instituições serão accionistas (50% do capital para cada uma) de um banco universal, que terá especial enfoque na banca de investimentos e possuirá um capital social inicial de mil milhões de dólares (cerca de 800 milhões de euros).
Os dois memorandos de entendimento - o primeiro entre o Governo angolano e o português e o segundo entre a Sonangol e a CGD - serão assinados no final da reunião de quarta-feira, entre José Sócrates e o Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, na residência oficial do primeiro-ministro, disse ao DN fonte oficial.
Caberá aos dois promotores a criação do banco, de acordo com a lei angolana, tendo sede em Luanda e uma filial em Portugal. Através das formas jurídicas adequadas de direito angolano, a futura instituição criará entidades de investimento, que irão apoiar e participar em projectos de desenvolvimento da economia angolana. Segundo as mesmas fontes, será da- da preferência a iniciativas promovidas por entidades empresariais angolanas, portuguesas ou parcerias luso-angolanas. in DN
Dias Loureiro justifica-se com falhas de memória
Polémica. O conselheiro de Estado refere que oito anos depois de ter passado pela SLN não tem documentos e que "os lapsos de memória são inevitáveis". Dias Loureiro diz estar disposto a regressar à AR para esclarecer caso do Excellence Assets Fund e diz estar a ser alvo de "uma campanha". Manuel Dias Loureiro garantiu ontem ao DN "estar sempre disponível para regressar ao Parlamento", e recusou a ideia de "ter mentido aos deputados por lhes dizer que nunca tinha ouvido falar no Excellence Assets Fund" quando o Expresso ontem publica contratos por si assinados. Em causa estão dois documentos, ou seja, o contrato de promessa de compra de 2626 deste fundo por parte da SLN, documento assinado por Dias Loureiro e Oliveira e Costa em Novembro de 2001, bem como o encerramento, já em Junho de 2002, numa operação que causou ao universo SLN um prejuízo de 38 milhões de dólares. O actual conselheiro de Estado reforça a ideia de que se "passaram oito anos sobre os factos relatados, o que o pode levar a ter lapsos de memória", o que, em seu entender, é "muito diferente de deliberadamente mentir na comissão de inquérito parlamentar ". Segundo Dias Loureiro "não tem nenhuma documentação dos tempos em que passou pela Sociedade Lusa de Negócios (SLN) pelo que estes lapsos são inevitáveis". Chama ainda a atenção para o facto do actual volume de imparidades do caso BPN se situarem nos 1800 milhões de euros, acrescentando que as perdas de 38 milhões de dólares nas empresas de Porto Rico "apenas se tratou de um negócio que, depois de uma fase inicial de grande entusiasmo, acabou por correr mal". in DN
